Acordo entre Universal Music e Udio marca nova era da música com IA e alerta o mercado brasileiro para mudanças profundas

Parceria encerra disputa judicial e inaugura um modelo global de criação musical com inteligência artificial. Entenda como isso impacta artistas, gravadoras, igrejas e o mercado brasileiro.

No fim de outubro de 2025, o mundo da música viveu um marco histórico: a Universal Music Group (UMG) anunciou um acordo definitivo com a startup americana de inteligência artificial Udio, encerrando uma das mais polêmicas disputas judiciais sobre direitos autorais da era digital.

Mais do que uma trégua, o pacto simboliza o nascimento de um novo modelo de criação musical com IA, baseado em licenciamento, remuneração e transparência, algo que pode alterar profundamente as bases da indústria fonográfica global. E o Brasil precisa estar atento: o impacto chegará também por aqui.

Do conflito à cooperação: o que aconteceu

Em 2024, a Universal, junto com Sony e Warner, processou empresas de IA, entre elas a Udio, acusando-as de usar gravações protegidas por direitos autorais para treinar suas inteligências artificiais sem autorização.

A Udio se defendia alegando que suas criações eram “novas obras” e poderiam estar amparadas pelo conceito americano de “fair use”. O debate se intensificou: até que ponto uma IA pode aprender com músicas existentes sem ferir direitos?

O acordo de 2025 encerrou o impasse. A Universal retirou o processo e, em contrapartida, fechou com a Udio um acordo de compensação financeira e licenciamento global. Além disso, as empresas anunciaram o desenvolvimento de uma nova plataforma de música com IA, prevista para 2026, que usará apenas obras devidamente licenciadas e identificadas.

Por que esse acordo é histórico?

O entendimento entre a Universal e a Udio é considerado um divisor de águas porque muda a postura da indústria:

de “proibir” e litigar contra a IA, para “regular” e monetizar sua atuação.

Pela primeira vez, uma das maiores gravadoras do mundo reconhece que a criação com IA é inevitável e que o caminho não é o bloqueio, mas o uso responsável, transparente e remunerado.

Segundo o CEO da Universal, Sir Lucian Grainge, a meta é “construir um ecossistema saudável de IA, onde artistas, compositores, empresas e fãs possam criar experiências incríveis, respeitando os direitos de todos”.

E o que isso tem a ver com o Brasil?

Muito. E mais do que parece.

A Universal Music Brasil é uma das maiores gravadoras do país e tem ligação direta com o novo modelo que será implantado. Isso significa que as práticas definidas nesse acordo internacional poderão se estender para o território brasileiro, influenciando como artistas, editoras, selos independentes e até igrejas tratam o uso de música com IA.

Veja os principais reflexos esperados:

1. Novas fontes de receita, mas para quem estiver preparado

A principal oportunidade está nas licenças de uso para treinamento e geração de música. Autores, compositores e editoras brasileiras podem passar a receber quando suas obras forem utilizadas por plataformas de IA devidamente licenciadas.

Por outro lado, quem não tiver suas obras registradas corretamente no ECAD ou em editoras pode ficar de fora desses repasses. A era da IA reforça a importância da organização de metadados, ISRCs e ISWCs.

No cenário gospel, onde muitos artistas são independentes ou ligados a ministérios, essa organização será essencial para garantir que a criatividade cristã também gere frutos justos.

2. ECAD e igrejas: atenção redobrada

O ECAD já estuda como regular execuções públicas e transmissões de músicas geradas por IA. Caso isso avance, cultos e transmissões on-line que utilizem trilhas de IA (ou hinos tradicionais recriados digitalmente) poderão precisar de licenças adicionais.

Igrejas e ministérios que produzem louvores originais devem registrar suas obras, tanto para proteger autoria, quanto para evitar uso indevido por modelos de IA no futuro.

Ou seja, o mesmo cuidado que se tem hoje com direitos autorais em cultos e transmissões deve ser estendido à IA musical.

3. Startups e produtores cristãos brasileiros

O acordo da Universal abre espaço para um novo tipo de empreendedor: as startups de IA licenciada, que poderão criar músicas com base em catálogos oficiais.

Empresas cristãs que produzem música, podcasts ou trilhas podem se inspirar nesse modelo, mas precisam agir com responsabilidade: treinar IA apenas com obras licenciadas, implementar fingerprinting e respeitar direitos.

Isso não apenas evita litígios, mas constrói confiança no público e na indústria.

4. Desafios e riscos do novo cenário

Apesar das oportunidades, há alertas importantes:

Grandes gravadoras podem concentrar ainda mais poder sobre quais IAs têm acesso aos catálogos. Autores independentes podem ser excluídos se não participarem de associações ou editoras. A fronteira entre criação humana e criação assistida por IA continua turva e isso ainda gerará debates jurídicos e éticos.

5. Oportunidade para o mercado gospel e independente

O acordo Universal–Udio pode abrir espaço para um novo tipo de criatividade cristã, onde ferramentas de IA ampliam possibilidades de composição, arranjo e produção.

Imagine um futuro próximo em que um ministério de louvor brasileiro possa criar hinos com tecnologia assistida, mas dentro de um ambiente ético, legal e transparente, onde cada autor é devidamente creditado e remunerado.

Esse é o modelo que a indústria quer construir e o Brasil tem a chance de estar na vanguarda, se agir com preparo e consciência.

Conclusão: hora de se organizar

O pacto entre Universal e Udio é mais do que uma manchete global é um sinal de direção. Ele mostra que o mundo da música entrou oficialmente na era da IA legalizada e remunerada.

Para o Brasil, o recado é claro:

quem tiver obras registradas, contratos atualizados e metadados organizados participará da nova economia criativa digital.

Quem não tiver, corre o risco de ver sua música sendo usada sem controle e sem recompensa.

Por Niwton Barros

Com informações de Reuters, AP News, The Verge, Pitchfork e MusicRadar