O acordo encerrou quase seis meses de mediação por parte da Portas Abertas, organização mundial que apoia cristãos perseguidos, e a incerteza sentida por Mauricio Vasquez* e sua família diante de uma possível expulsão de sua cidade natal no município de Ocosingo.
Em maio passado, representantes locais do estado de Chiapas compareceram a uma reunião conciliatória convocada para tentar chegar a um acordo com Mauricio. Eles apresentaram um documento assinado por 160 moradores da comunidade no qual afirmavam unanimemente que o catolicismo é a única crença religiosa que as pessoas poderiam professar.
O documento também alertava que a construção de templos e visitas de líderes de igrejas cristãs não-católicas eram proibidas. “Qualquer um que seja considerado culpado de violar esses regulamentos será acusado de tentar causar divisão dentro da comunidade”, explica o documento.
O resultado de cinco horas de discussão entre as autoridades locais e o advogado que atua em nome da família de Mauricio fica aquém de um acordo justo.
De acordo com o acordo, ele pode professar sua fé “livremente”, mas fora de sua cidade natal; ele não tem permissão para receber visitas pastorais ou construir um templo. Além disso, ele terá que cumprir seus deveres durante as tradicionais festividades católicas e “viver em harmonia com todos os moradores”.
Em troca da assinatura do acordo, os líderes da comunidade concordaram em reinstalar os serviços essenciais na casa da família de Mauricio, como água e luz, que ordenaram que fossem cortados por vários meses.
Como tudo começou
Mauricio foi detido em janeiro passado e levado para a prisão ao lado de sua esposa como punição por se converter ao protestantismo e professar uma fé diferente da crença católica tradicional.
Poucos dias antes de sua prisão, Mauricio havia recebido uma notificação formal das autoridades da comunidade informando que era proibido compartilhar o Evangelho dos protestantes. Eles também ameaçaram toda a família com a expulsão de sua cidade natal se não renunciassem à fé evangélica e voltassem ao catolicismo.
Cristãos convertidos em áreas rurais do México como Mauricio não passam despercebidos, por mais que tentem se manter no anonimato. As autoridades municipais monitoram e controlam os movimentos dos moradores dentro e fora das comunidades.
O acesso à comunidade indígena onde Mauricio vive com sua família é bastante difícil. São cerca de quatro horas dirigindo por estradas não pavimentadas para chegar à cidade mais próxima. Uma simples viagem para comprar mantimentos significa passar por vários postos de controle e ser interrogado por policiais.
Logo após se converter ao cristianismo evangélico, Mauricio começou a viajar para fora de sua cidade para participar de estudo bíblico em um local próximo com outros dezesseis irmãos na fé. Em pouco tempo, agentes na estrada notaram os movimentos do grupo todos os domingos, até que um dia, eles os pararam e interrogaram Mauricio sobre a atividade do grupo.
As frequentes viagens para estudar a Bíblia e seu batismo, confirmando seu compromisso com sua nova fé, em janeiro passado, desencadearam uma onda de ameaças e assédio contra eles.
Voluntário no campo da Portas Abertas, o pastor Humberto ensinou-lhes as lições contidas no manual de resiliência que a organização prepara para ajudá-los a permanecerem fortes em sua fé e aprenderem a responder adequadamente à intolerância e discriminação de outros moradores de sua comunidade.
“Esse caso é relevante para a Portas Abertas porque vimos como Mauricio e sua família se mantiveram firmes nessa difícil situação. Eles foram sal e luz para todos, apesar de terem se convertido ao cristianismo há apenas oito meses”, afirmou Humberto.
Fonte: Portas Abertas